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Vítima de abuso e estupro, mulher expõe caso em Londres

Terri-Louise Graham, de 31 anos, compartilhou seu drama pessoal durante o festival 'Women of the World’, em Londres

8 mar 2015 - 09h40
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Além da violência física, que a levou a parar no hospital em mais de uma ocasião e chegar a ficar com o rosto totalmente irreconhecível, Terri-Louise também revelou que foi vítima de estupro do ex-parceiro.
Além da violência física, que a levou a parar no hospital em mais de uma ocasião e chegar a ficar com o rosto totalmente irreconhecível, Terri-Louise também revelou que foi vítima de estupro do ex-parceiro.
Foto: Patrícia Dantas / Especial para Terra

Medo, terror, vergonha, culpa. Essas foram apenas algumas das palavras usadas por uma vítima de violência doméstica para descrever sua experiência pessoal durante o festival 'Women of the World', em Londres, que chega ao fim neste domingo, 8, Dia Internacional da Mulher.

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Sobrevivente do abuso constante de seu ex-parceiro, tanto físico quanto psicológico, Terri-Louise Graham, de 31 anos, teve a coragem de compartilhar detalhes do trauma que sofreu em seu próprio lar nas mãos daquele que, supostamente, deveria amá-la e protegê-la de todo mal.

“Conheci o Greg quanto tinha 17 anos. Era o amor da minha vida. Ficamos juntos até meus 19 anos, quando mudei para Inglaterra e acabei conhecendo o pai da minha filha. Ao voltar para a Irlanda do Norte e me separar do meu marido após ele ser violento com nossa filha na minha frente, acabei me aproximando novamente do Greg. Quando vi ele já estava morando comigo na minha casa, apesar de ainda não estar pronta para um novo relacionamento”, relembrou Terri-Louise em entrevista exclusiva ao Terra.

<p>Além da violência física, que a levou a parar no hospital em mais de uma ocasião e chegar a ficar com o rosto totalmente irreconhecível, Terri-Louise também revelou que foi vítima de estupro do ex-parceiro.</p>
Além da violência física, que a levou a parar no hospital em mais de uma ocasião e chegar a ficar com o rosto totalmente irreconhecível, Terri-Louise também revelou que foi vítima de estupro do ex-parceiro.
Foto: Reprodução

“No início, foram seis meses ao todo, ele não fez nada. Ele era brilhante, perfeito. Descobrimos que estava grávida de três meses e foi quando os primeiros abusos físicos começaram. A primeira vez que fiquei completamente coberta por meu próprio sangue”, continuou.

Além da violência física, que a levou a parar no hospital em mais de uma ocasião e chegar a ficar com o rosto totalmente irreconhecível, Terri-Louise também revelou que foi vítima de estupro do ex-parceiro. “Fui estuprada pela primeira vez quando estava amamentando nosso filho, que estava num quarto ao lado. Os abusos físicos e sexuais continuaram até que fiquei grávida novamente, e ele não aceitava a ideia de ter outro filho. Antes de eu dar à luz, ele chegou a me chutar, esmurrar e dar joelhadas na minha barriga. Ele não queria ser pai novamente. Dei à luz prematuramente, 3 semanas e meia antes do tempo, porque ele me bateu tanto e estava muito estressada”.

Segundo Terri-Louise, ela não conseguia entender o motivo pelo qual era tão abusada pelo homem que amava. “Chegou a um ponto em que os abusos aconteciam todo dia. Não sabia se era algo que ia dizer ou se porque não cozinhei algo certo, estava sempre com receio de quando seria a próxima vez que ele iria me bater”.

A jovem, de 31 anos, contou ainda em detalhes a última ocasião em que foi estuprada e espancada durante seis horas pelo parceiro até a chegada da polícia. “Estávamos na casa de uma amiga que chamava de minha irmã mais nova. Ele quebrou uma garrafa de vodka na minha cabeça no apartamento dela e eu falei pra ela: ‘liga pra polícia’. Então ela começou a ligar pra polícia à 1h e só às 7h45 eles apareceram. A policial disse pra ela: ‘sempre recebemos chamadas desses dois’. E [minha amiga] disse que ele ia me matar e acabou fugindo assustada. Nesse intervalo de tempo, ele me levou pra rua no meio dos arbustos, tirou minha roupa, me deixou completamente nua, me bateu, me estuprou e depois andou comigo até nossa casa, eu estava sangrando, sendo amparada por ele, que andava calmamente. Chegamos em casa e ele continuou a me espancar. Ele tentou me enforcar duas vezes, jogou uma TV na minha cabeça, me chutou na cara. Eu desmaiei várias vezes. Quando a polícia chegou, ele ainda tentou me silenciar e fazer com que eles fossem embora de novo. Foi quando gritei e corri. Não sei de onde tirei essa força. Corri e me joguei nos braços da policial”.

Após três anos de abuso doméstico, Terri-Louise levou Greg ao tribunal e ele foi condenado a 7 anos de prisão, incluindo oito acusações de estupro.

“Ele está na lista de criminosos sexuais para o resto da vida. Ele tem que reportar tudo pra polícia e não pode se ausentar por mais de 3 dias do país, qualquer mulher que ele tiver relacionamento no futuro, ele tem que dizer o que ele fez. Eu fiz isto, protegi qualquer outra mulher com quem ele possa se envolver no futuro. E acho que é uma coisa boa. Ele não pode apenas sair da prisão e machucar outra mulher novamente. Tive o pior momento da minha vida”.

Vítimas de abuso doméstico, Catherine, 52, (à esquerda),  e Terri-Louise Graham, 31, (à direita), discutem dramas pessoais com Jude Kelly (centro), organizadora do festival Women of the World, em Londres
Vítimas de abuso doméstico, Catherine, 52, (à esquerda), e Terri-Louise Graham, 31, (à direita), discutem dramas pessoais com Jude Kelly (centro), organizadora do festival Women of the World, em Londres
Foto: Patrícia Dantas / Especial para Terra

Trauma

Desde que Greg Logue foi preso em 2011, Terri-Louise ainda tenta se recuperar do trauma que sofreu e recorre à terapia para continuar vivendo.

“Tenho Transtorno de Estresse Pós-traumático. Não falei com ninguém depois que isso aconteceu. Por um longo tempo, não tinha as cortinas fechadas em casa, me sentia apavorada. Não podia ir a qualquer lugar sozinha, nem a este prédio ou até mesmo ir até a loja da esquina. É muito assustador. Estou começando a tentar falar com alguém no telefone e conseguir andar até algum lugar. Ainda acordo gritando hoje em dia. Ele era horrível, terrível, nojento”.

Futuros relacionamentos

A experiência traumática deixou sequelas em Terri-Louise, que não pensa em ter novos relacionamentos, pelo menos por enquanto.

“Não quero homem mais. Estou há mais de um ano e meio solteira e estou feliz sozinha. Não preciso de um homem. No futuro pode ser que pinte alguém, pois não acho que todos os homens sejam iguais. Apenas sei que, naquele momento, não estava pronta e estava escolhendo os homens errados. Obviamente, tinha que trabalhar em mim. Claro que eles sabem por qual ângulo aproximar uma mulher, procurar por aquele lado fraco, vulnerável. Eu procurei por um homem forte para me proteger, mas não sabia que ele ia acabar me machucando”.

Ela acrescentou: “Tive quatro relacionamentos em toda minha vida e sempre foi abuso, abuso e abuso. Isso me levou a pensar, pára, Terri, desista, vamos lá, tente cuidar de si mesma, conserte sua cabeça, ajeite sua vida. Se ainda tenho Transtorno de Estresse Pós-traumático, se ainda estou vendo o psicólogo, não estou pronta pra um relacionamento, porque não consertei isso”.

Conselho para mulheres em situação similar

Assim como decidiu contar seu caso para outras mulheres durante o Festival ‘Women of the World’ em Londres, Terri-Louise quer continuar divulgando sua história e aconselha outras vítimas de violência doméstica a não se calarem.

“Se tiverem na mesma situação do que eu, fale com alguém, qualquer pessoa. Se quiser falar comigo no Facebook, fale comigo. Ache uma pessoa e converse. Eu inspirei mulheres a falarem pela primeira vez com outras pessoas. Às vezes é muito difícil, você não quer contar pra sua mãe, mas há pessoas lá fora que podem te ajudar. Eu amava esse homem e me sinto petrificada com ele. Jamais voltaria pra ele. Ele tentou me matar. Quero que [outras mulheres] deixem essa situação, mas também sei como elas se sentem. Por isso, fale sobre isso. Nunca pare de falar sobre isso, não necessariamente para a polícia, mas não deixe de falar. Sempre terá aquela pessoa com quem poderá falar. Eu tive. Você precisa de algum tipo de apoio”.

Segundo ela, também é importante que as mulheres não se sintam culpadas ou envergonhadas devido ao abuso doméstico que sofreram.

“Não tenha medo nem vergonha. Costumava pensar que eu era suja, porque é sujo, principalmente sendo estuprada. Fui estuprada na rua mais de uma vez. Você tem que entender que não é suja. Ele que é o animal, nojento, não eu. Você não quer se sentir como vítima, mas você é”, disse Terri.

“Ao compartilhar minha história e ajudar as mulheres, alguma coisa boa pode vir de algo tão ruim e cruel. Por isso estou aberta a falar, porque o quanto mais amplamente meu caso for divulgado, posso estar ajudando outra pessoa. Com quantas mais pessoas você falar, mais chances de você conseguir ajudá-las”, finalizou.

Estatísticas de estupro - Reino Unido x Brasil

De acordo com um estudo do Ministério do Interior e Ministério da Justiça divulgado em janeiro de 2013, aproximadamente 85,000 mulheres são estupradas em média na Inglaterra e País de Gales todo ano. Mais de 400,000 mulheres são violentadas sexualmente a cada ano e uma em cinco mulheres, entre 16 e 59 anos, já experienciou alguma forma de violência sexual desde os 16 anos de idade.

Cerca de 90 por cento das vítimas da maioria de ofensas sexuais sérias em 2012 conheciam seu perpetrador, comparado com menos do que a metade por outras ofensas sexuais. Em 2011/12, a polícia registrou um total de 53,700 ofensas sexuais na Inglaterra e País de Gales. Os crimes sexuais mais sérios de ‘estupro’ (16,000 casos) e ‘agressão sexual’ (22,100 casos) somaram 71% dos crimes sexuais registrados pela polícia.

Já segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2014, 50,320 estupros foram registrados no país em 2013, numa leve oscilação no número de registros em relação a 2012, quando foram relatados 50,224 casos. 35% das vítimas de estupro costumam relatar o episódio à polícia, de acordo com pesquisas internacionais. Portanto, estima-se que o Brasil tenha convivido em 2013 com cerca de 143 mil estupros.

Fonte: Especial para Terra
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