Selinho entre pais e filhos pode confundir a criança
Os pais são tão carinhosos e orgulhosos da prole que não conseguem esconder tamanho amor. Abraçam, apertam, elogiam, beijam. Algumas famílias costumam adotar ainda mais uma forma de carinho: o selinho, um toque rápido de lábios. Aderir a essa prática é uma opção pessoal, mas a família precisa estar ciente que explicações serão necessárias, principalmente às crianças.
O selinho não tem uma relação estreita com a sexualidade, no entanto, é geralmente entendido como uma demonstração de carinho entre namorados. Para as crianças, pode ser difícil entender que o beijo nos pais é diferente. Segundo a educadora sexual e diretora executiva do Instituto Kaplan, Maria Helena Vilela, a família precisa deixar bem claro que se trata de um cumprimento carinhoso, e não um carinho romântico. No entanto, segundo a psicóloga e arte educadora Jéssica Fogaça, o selinho é uma forma interessante de demonstrar carinho, principalmente com as crianças pequenas, porque elas são mais suscetíveis ao toque.
De acordo com Maria Helena, é comum que alguns pais brinquem e digam que são namorados dos filhos. Isso pode confundir as crianças, ainda mais aquelas que já passaram da primeira infância. Afinal, o chamado Complexo de Édipo é bastante comum entre quatro e cinco anos. Portanto, é muito importante explicar e deixar explícito como funcionam as relações maternal e paternal. A postura dos pais precisa deixar claro que se trata de um cumprimento, sem relação com o beijo romântico.
Segundo a psicóloga infantil Daniella de Freixo Faria, é provável que os pequenos que dão selinhos nos pais também tentem beijar outras pessoas. Afinal, para elas, não faz sentido demonstrar carinho dessa forma só com a família, se também gostam de seus amigos, por exemplo. Portanto, é importante explicar que é um hábito social incomum.
Com o tempo, pode ser que a criança recuse ou se mostre constrangida ao dar um selinho nos pais. Nesses casos, segundo Maria Helena, o ideal é que a família não force e respeite a decisão. Afinal, como Daniella salienta, há diversas outras formas de demonstrar carinho. Às vezes, uma palavra amiga ou um olhar podem até ser mais valiosos.
De acordo com Daniella, a confusão dos filhos pode se tornar mais evidente quando eles crescerem e derem o primeiro beijo. A partir desse momento, o selinho passará a ter uma conotação diferente para eles, apesar de já saberem socialmente que há uma diferença. Além disso, segundo Jéssica, o mais importante é que os pequenos descubram qual é a forma com que se sentem mais à vontade para demonstrar carinho.
Além dos fatores psicológicos envolvidos, o selinho também requer alguns cuidados de saúde. Isso porque alguns tipos de viroses, como a catapora, a herpes e a gripe, podem ser transmitidas por meio do beijo. Segundo o primeiro-tesoureiro da Sociedade Brasileira de Infectologia, Marcos Antônio Cyrillo, tanto o selinho quanto o assoprar da comida da criança pode transmitir micro-organismos, pois inúmeros tipos de bactérias e afins alojam-se na região bucal. Assim, o melhor é evitar dar selinhos se há a suspeita de alguma doença. E, claro, não forçar a barra se a criança estiver desconfortável com esta demonstração de carinho.