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“É fácil criar filmes eróticos para mulheres”, diz sexóloga

A especialista Ann-Marlene Henning afirma que mulheres se excitam facilmente e que bom sexo não é fruto somente de posições

27 ago 2015 - 11h32
(atualizado às 13h45)
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Para a sexóloga Ann-Marlene Henning, o importante não é conhecer muitas posições sexuais, como afirmam revistas femininas. "Na verdade, duas ou três são suficientes, se elas lhe levam a sentir alguma emoção", diz.

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A revista erótica Separée acendeu a discussão sobre a relação do público feminino com o sexo
A revista erótica Separée acendeu a discussão sobre a relação do público feminino com o sexo
Foto: iStock

Nascida na Dinamarca, Henning se mudou em 1985 para Hamburgo, onde trabalha há anos como terapeuta sexual. Em 2012, ela lançou o livro de educação sexual Make Love, e, desde 2013, apresenta o programa de TV Liebe Kann Man Lernen (em português, O amor pode ser aprendido).

Em entrevista à Deutsche Welle, emissora alemã para o exterior, a especialista destaca que atualmente o tema sexo é discutido abertamente na TV, em livros e em revistas, como a Separée – publicação erótica voltada ao público feminino, lançada em 2014 na Alemanha e na Áustria. Apesar disso, as pessoas frequentemente ainda têm dificuldade em falar sobre sexo, em particular as mulheres, que muitas vezes "não se conhecem o suficiente".

Deutsche Welle: Por que é tão difícil produzir filmes, livros ou revistas eróticas, como a Separée, para mulheres?

Ann-Marlene Henning:

Isso não é nada difícil! Mulheres têm imaginação fértil e não é preciso muito para que um filme desperte sua mente. Por exemplo,

Cinquenta Tons de Cinza

– talvez não seja do gosto de todos, apesar disso, sua lembrança provoca emoções em muitas pessoas. As mulheres se excitam facilmente. O seu corpo está predisposto.

DW: Como terapeuta de casais, o que você já vivenciou no consultório?

A.M.H.: 

Poucas vezes se escutam frases como: "vou falar agora sobre a vagina ou o pênis." Há muita vergonha em jogo. Com toda a pornografia disponível, isso é difícil de imaginar, não é verdade? Deixe-me expressar desta maneira: as pessoas podem falar sobre sexo, mas uma vez que se trata da sexualidade delas, o assunto passa a ser desagradável.

DW: Nunca se falou tanto sobre sexo como agora. Não existe hoje nada mais importante do que discutir o tema publicamente?

A.M.H.: 

As pessoas me perguntam: "será que ainda temos realmente de falar sobre isso?" Então, eu digo: "infelizmente ainda há pessoas que precisam de ajuda." Muita gente não vivencia um bom sexo há muito tempo. E o sexo é tão importante, trata-se de uma das nossas necessidades básicas! Para mim, tanto faz se um casal não pratica mais sexo ou não quer falar sobre o assunto, mas, na maioria das vezes, um dos cônjuges sofre com isso.

DW: Então, o principal problema está na falta de comunicação e abertura?

A.M.H.: 

As pessoas têm um medo enorme de se abrirem e ser autênticas. Quando se ama alguém, rapidamente torna-se perigoso exigir alguma coisa. Ele ou ela poderia, no final, deixar de gostar do outro ou logo abandoná-lo! Apaixonar-se é fácil, mas quando o amor verdadeiro entra em cena, também vem o medo. Fala-se menos um com o outro e, de repente, o sexo fica bem atrás na lista de prioridades.

Segundo Ann-Marlene Henning, falar sobre a própria sexualidade pode ser desagradável para algumas pessoas
Segundo Ann-Marlene Henning, falar sobre a própria sexualidade pode ser desagradável para algumas pessoas
Foto: Facebook/Reprodução

DW: Deixemos o aspecto psicológico de lado por um momento. Um estudo aponta que os alemães só usam, em média, duas a três posições... há um conservadorismo?

A.M.H.: Você acha que isso só tem a ver com os alemães? Todo mundo tem duas ou três posições sexuais preferidas, isso é assim em toda parte. Mas, falando sério, eu não acho que um bom sexo seja fruto somente de posições. Revistas femininas sempre escrevem "aprenda novas posições!", mas, na verdade, duas ou três são suficientes, se elas lhe levam a sentir alguma emoção.

DW: Milhões de pessoas leram a série Cinquenta Tons de Cinza. A revista erótica Separée [voltada para o público feminino] tem uma tiragem de 20 mil exemplares na Alemanha. Existe uma discrepância entre as expectativas femininas e a realidade?

A.M.H.: 

Às vezes, as mulheres não podem nem mesmo ter expectativas, porque não se conhecem o suficiente ou não sabem tudo o que é possível. Quando assistimos a filmes de Hollywood, percebemos o que queremos: um homem que mostre claramente que nos deseja, que acaricie os nossos cabelos, nossa cabeça, nossas orelhas, nossos lábios, tudo. Precisamos de um homem que se sinta atraído pelo nosso corpo.

DW: Que problemas surgem quando uma mulher constata que sua vida sexual não é tão emocionante e satisfatória como as das protagonistas de livros ou filmes?

A.M.H.: 

Quando não conseguem ter orgasmo, as mulheres concluem imediatamente que há algo errado com elas. Afinal de contas, em todos os filmes pornôs, chega-se sempre ao clímax. Muitas vezes, elas não dizem nada ou fingem [um orgasmo].

DW: As pessoas ficaram mais abertas nos últimos anos, por meio da presença constante do sexo em todas as suas variações?

A.M.H.: 

O fato de o tema estar bastante presente em livros, revistas como a Separée e em programas de TV indica que realmente há uma mudança. Mas no meu dia a dia, ainda há muito trabalho de detetive. "Por que aquela pessoa se comporta daquela forma? É por aqui que temos que começar?" Então, dizem com frequência: "Oh, podemos fazer algo sobre isso?" É fascinante observar pessoas percebendo a sua sexualidade e que ainda existe esperança.

Andressa Urach afirma que ganhava até R$ 3 mil por programa:
Deutsche Welle A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.
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