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Discriminação contra mulher persiste, diz primeira senadora eleita do Brasil

11 mai 2009 - 15h49
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Plínio Teodoro

Eunice Michiles acredita que a mulher ainda seja discriminada na política
Eunice Michiles acredita que a mulher ainda seja discriminada na política
Foto: Arquivo Pessoal / Divulgação



Dia 11 de maio de 1979. A data foi histórica para uma mulher brasileira que mudou o destino de todas as outras que lutam por uma maior participação feminina na vida política do País. Foi nesta data, que a paulistana de coração amazonense Eunice Michiles assumiu seu mandato no Senado Federal, tornando-se a primeira mulher eleita para o cargo. Antes dela, apenas a Princesa Isabel havia ocupado o posto, gozando de seus direitos dinásticos, sem passar pelo crivo do voto.

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Passados 30 anos, Eunice acredita que, mesmo com uma maior participação da mulher em cargos públicos, a discriminação ainda persiste no meio. "Antes era uma coisa inusitada, como se fosse um grande acontecimento. Quebrei um tabu muito grande e confesso que tinha medo de enfrentar aqueles grandes caciques, ainda mais em plena ditadura. Exerci meu papel de precursora, mas a discriminação ainda existe", afirma.

Eunice se interessou pela política quando deixou a capital paulista para acompanhar o marido, que era político na região amazônica. Na pequena cidade de Maués - distante fisicamente e também distinta na realidade social de sua terra natal - foi onde a futura senadora viu que poderia usar a política, realmente, para aquilo a que ela se propõe: mudar a vida de muitas pessoas simples que moravam no município.

"Vi muitas mulheres morrerem por falta de assitência no parto, muitas crianças abandonadas nas ruas de Maués. Então, em 1974, resolvi me candidatar a deputada estadual, pensando exatamente no papel da mulher na sociedade e nos absurdos a que elas estavam submetidas", relembra a ex-política, que fazia parte da Aliança Renovadora Nacional (Arena), um dos dois partidos permitidos pela ditadura militar - o outro era o Movimento Democrático Brasileiro (MDB).

Cinco anos mais tarde, Eunice chegava ao Senado Federal, eleita pelas mesmas mulheres que a fizeram começar sua militância política. "Lembro que a recepção foi muito calorosa. Havia flores, poesia. Mas, em toda esta gentileza estava embutido um raio de discriminação. Eles não queriam me ver como uma colega de trabalho. Era uma coisa velada. Todos me tratavam muito bem, mas ninguém ensinava o 'caminho das pedras'".

Nos 12 anos em que esteve no Congresso Nacional - em dois mandatos no Senado e um na Câmara Federal - Eunice pautou seu trabalho na projeção da mulher. "A mulher não era prioridade, as proposições eram tido como coisas secundárias. Acredito que meu maior êxito foi justamente colocar isto em pauta e, para isto, apanhava dos dois lados. Tanto dos homens, que me achavam feminista, como das feministas, que me achavam light demais".

Com nove das 81 cadeiras do Senado sendo ocupadas por mulheres atualmente e em meio a denúncias, quase diárias, de irregularidades por parte dos congressistas, Eunice ainda acredita na política como a melhor maneira de transformar a realidade das pessoas. "Sempre existiram bons e maus políticos, como existe em todas as áreas bons e maus profissionais. O parlamentar hoje, mais do que nunca, está na vitrine, o que aumenta a sua responsabilidade de fazer política para todos e não apenas por interesse." Aos 80 anos, Eunice casou-se novamente há quatro anos com Gerson Clóvis Malty e vive em Brasília. Mãe de três filhos, ela ainda tenta, na companhia dos cinco netos, matar um pouco da saudade da filha, que morreu há dois anos. Mas, a política ainda ocupa um lugar de destaque no coração desta mulher, que ainda acredita em um mundo melhor para aquelas que serviram de inspiração para sua vida parlamentar.

"Temos que ser profissionais, mães, avós. Estar sempre bela, cuidar da casa, dos filhos, do marido. Em todas as conquistas, ainda se cobra um tributo muito alto da mulher. A mulher, para ser considerada e respeitada, tem que ser muito eficiente. Mas, superar barreiras, principalmente da discriminação, é um dos maiores incentivos para se propor idéias para um mundo mais igualitário. Para homens e mulheres", conclui.

Fonte: Redação Terra
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