PUBLICIDADE

Violência infantil tem sintomas perceptíveis, dizem especialistas

Caso de adolescente que teria assassinado a família é situação rara. Segundo psicólogos e pedagogos, a agressão de um filho contra pai e mãe estaria atribuída à desordem mental com sintomas perceptíveis

14 ago 2013 - 10h41
(atualizado às 10h47)
Compartilhar
Exibir comentários
Segundo polícia, menino de 13 anos teria assassinado pai, mão, tia e avó
Segundo polícia, menino de 13 anos teria assassinado pai, mão, tia e avó
Foto: Reprodução

Na última semana, a morte de cinco membros da mesma família – dois deles policiais militares - deu início a uma investigação policial que chegou a suposições questionadas por familiares e conhecidos das vítimas. O filho do casal de PMs Marcelo Eduardo Bovo Pesseghini, 13 anos, teria assassinado pai, mãe, avó e tia-avó e depois se suicidado no bairro Brasilândia, zona norte de São Paulo, de acordo com o delegado Departamento de Homicídio e de Proteção à Pessoa (DHPP) de São Paulo, Itagiba Franco. 

Enquanto as investigações caminham para um crime planejado pelo adolescente, depoimentos de pessoas próximas descrevem Marcelo com um perfil incompatível com a hipótese policial, como um menino carinhoso, feliz e que amava a família. Segundo especialistas entrevistados pelo Terra, a violência contra os pais, sendo a criança a agressora, é “raríssima” e, em geral, é atribuída a algum grau de “desordem mental”, com sintomas perceptíveis.

"Ele não era normal mentalmente", analisa psiquiatra:

“Pode ser desde uma fantasia alucinatória em que a criança se convence a agir contra os pais e até casos mais graves de transtornos de personalidade, em que ela não desenvolve afeto ou sentimento de pertencimento, afiliação e culpa”, explicou o psicólogo do Instituto de Neurolinguística Aplicada, Lucas Rezende. Em plena consciência, um episódio de violência contra os pais poderia ser uma medida extrema de se expressar ou ódio por aqueles que ele acredita serem responsáveis por sua infelicidade, acrescentou a psicóloga Vanessa Pik Quen Lee.

Não existe uma regra para a situação, mas os ambientes familiar e escolar em que o filho vive podem interferir no comportamento, ressaltaram os psicólogos. Uma pessoa acostumada à linguagem da violência desde a infância dentro da própria casa lida com a agressividade com naturalidade, explicou a pedagoga Pamela Lenhari. A normalidade, no entanto, pode se desmanchar quando a criança tem contato com ambientes familiares mais sãos. “Ela percebe que os amigos e parentes não vivem a mesma situação dentro de casa com os pais, começa a sentir necessidade de carinho e se revolta com a violência que já sofreu”, afirmou a pedagoga. 

<p>Uma criança que lida com violência constante dentro da própria casa, passa a enxergar a agressão como algo natural</p>
Uma criança que lida com violência constante dentro da própria casa, passa a enxergar a agressão como algo natural
Foto: Getty Images

“Nenhuma criança nasce violenta”, de acordo com a psicopedagoga Mariana Casagrande, “há um consenso de que a pessoa adquire o comportamento no decorrer da vida”, disse. Brinquedos como armas, jogos e filmes violentos contribuem para a incorporação da violência como um “padrão de normalidade”. “Se uma criança é criada na fazenda e tem contato com abate de animais, podemos supor que quando adulta será indiferente ao presenciar um abate, ao contrário de outra que tenha crescido em um centro urbano e que sentirá certo desconforto”, comparou Rezende. 

<p>Quando o adolescente está com problemas emocionais ou psicológicos ele emite sinais que podem ser observados pelos pais</p>
Quando o adolescente está com problemas emocionais ou psicológicos ele emite sinais que podem ser observados pelos pais
Foto: Getty Images
Sinais de alerta

Quando uma criança ou adolescente está com problemas emocionais ou psicológicos, existem mudanças de comportamentos significativas, segundo os entrevistados. Não conseguir dormir tranquilamente, crises de choro repentinas, falta de apetite, agressividade, isolamento e hematomas no corpo – às vezes causados pela própria pessoa -, enumerou Pamela. Uma criança que não sorri, evita pessoas e lugares também merece atenção dos pais, segundo Vanessa. “Alimentação em excesso ou restrita, apatia extrema e agitação”, acrescentou Mariana.

Na adolescência, é comum a “fase da rebeldia e autoafirmação”, segundo Rezende. A situação pede alerta dos pais e apoio, para o filho saber que pode contar com a família. Diante de sintomas acentuados, a procura por ajuda profissional é fundamental. Pamela contou que os pais costumam ver os psicólogos como um “tabu”, mas para ela uma avaliação é importante para esclarecer os medos e inseguranças que fazem parte da maturação. As primeiras sessões devem ser acompanhadas dos pais, aconselhou Rezende. 

O diálogo com professores e pedagogos da instituição de ensino onde estuda o filho é essencial, principalmente, se o adolescente se referir de forma negativa à escola, disse Pamela. A expressão pode não ser verbalizada, mas somatizada em sintomas como dor de barriga ou de cabeça antes do horário da aula e adoecimento constante. “É importante dizer, porém, que isoladamente não há um ou outro sintoma que sugira problemas psicológicos. Existem pais que se empenham em diagnosticar os filhos, quando na verdade são eles que precisam de um diagnóstico”, alertou Rezende. 

Fonte: Terra
Compartilhar
Publicidade
Publicidade