Ele era um engenheiro de 40 anos, casado e comum, com exceção de apenas um detalhe – gostava de se vestir com roupas femininas e ser dominado na cama. Com medo do que a mulher poderia pensar, entrou em contato com uma senhora que morava no Canadá, disposta a pagar para ter um escravo sexual, que a servisse, rastejasse pela casa, usasse coleira e topasse ser submisso.
Ao descobrir o esquema, a mulher, que até então não desconfiava deste traço do marido, ficou decepcionada. O casal procurou a sexóloga Carla Cecarello, de São Paulo, mas não deu continuidade às consultas. Não se sabe se o relacionamento voltou a funcionar, e, esmiuçando o conceito “sadomasoquismo”, ela explica porque os dois não conseguiam se entender na cama. “O sadomasoquismo representa o casal, composto por um sádico, que gosta de provocar sofrimento; e um masoquista, que desfruta do prazer de sentir a dor. Um masoquista não vive sem um sádico e vice-versa”, explica.
Este tipo de comportamento sexual vem à tona nesta quarta-feira (1) com a chegada ao Brasil do livro Cinquenta Tons de Cinza (editora Intrínseca), da autora inglesa Erika Leonard James. Definido por muitos veículos como um “pornô para as mulheres”, o título se tornou um enorme sucesso de vendas com um enredo que gira em torno do relacionamento da jovem e virgem Anastasia Steele, e Christian Grey, bilionário que propõe que ela seja sua escrava sexual. Ela aceita, e as páginas discorrem sobre o jogo de poder e submissão que resulta dessa parceria.
Com base em sua própria experiência profissional, Carla afirma que é uma parcela pequena da sociedade que se encanta com chicotes, tapas e velas – um número inversamente proporcional aos milhões de interessados no livro e neste tipo de história. Ao fenômeno de vendas, ela atribui o aspecto comportamental que está por trás da agressividade na cama.
A sexóloga explica que o sadomasoquismo existe em diferentes graus, e pode estar presente mesmo sem todo o estereótipo que cerca a prática. “Às vezes o casal não é sadomasoquista na cama, mas na atitude, como aquele homem que só pensa nele, não quer fazer uma preliminar, quer ser o dominante. Eu creio que este tipo de enredo encanta muito porque existe um grau de sadismo em muitas relações”, observa.
Para o psicólogo Oswaldo Rodrigues Junior, do Instituto Paulista de Sexualidade, as práticas sexuais na literatura sempre chamam a atenção. “Mais pessoas se associam a estas leituras, sentindo-se socialmente adequadas, e sem perversões. Livros assim facilitam a dispersão do conhecimento sobre estas práticas”, opina.
De onde vem e como se manifesta
Apesar de o tema estar mais em foco nos dias atuais, Carla afirma que as relações sadomasoquistas sempre existiram, partindo do princípio do “dominar” e do “ser dominado”. Até nas fantasias sexuais a relação de poder e submissão se faz presente – as mulheres vestidas de empregadas; os homens, vestidos com fardas, configuram uma relação de poder e submissão. “Acho que na verdade este comportamento não é muito aceitável pelas pessoas, mas eu diria que muito mais gente do que podemos imaginar faz isso na cama”, aponta Carla.
Mais do que chicotes, algemas e roupas de couro, o sadomasoquismo reflete essa necessidade de se impor em uma relação ou o contrário, a valorização em sofrer para agradar o outro. A especialista explica que o comportamento sádico ou o masoquista não depende de fatores genéticos, mas é resultado de uma influência muito grande do ambiente familiar e social que essa a pessoa vive nos primeiros anos de vida. Pais agressivos, que praticam violência entre si ou contra a criança, chantagistas ou vingativos podem reforçar este traço. “Este ambiente familiar provoca na criança sentimentos de negativismo e desilusão. Tudo é muito facilitado até os seis anos de idade, que é quando definimos nossa sexualidade”, explica. Fatores como influência de amigos, bullying e desilusões amorosas também acabam contribuindo para o aumento da agressividade.
Na vida fora da cama, os adeptos ao sadomasoquismo também demonstram traços que se traduzem em forma de agressividade na hora do sexo. “O sádico geralmente é uma pessoa mais egoísta, que busca somente os próprios interesses, não consegue trabalhar em conjunto nem dividir. Por outro lado, o masoquista não se impõe, todo mundo passa por cima, não tem voz ativa”, analisa.
Oswaldo explica que não existe violência dentro de uma relação deste tipo, mas a busca de diferentes formas de prazer associadas à dor e humilhação, desde a dominação e submissão, até as ações com dores ou punições físicas. Ele acrescenta que, nas últimas décadas, os praticantes tem preferido usar a sigla BDSM (Bondagismo, Dominação, Sadismo e Masoquismo), justamente para fugir do estereótipo da situação onde um bate e o outro apanha.
O especialista ressalta também que o sadomasoquismo não se enquadra em uma psicopatologia. “Não necessariamente existe a agressividade fora da cama, pois ambos se adequam socialmente, reservando para a privacidade os jogos que lhes dão prazer”, afirma.
Carinho na vida, tapinha na cama
Andar com salto agulha em cima do corpo do parceiro, provocar queimaduras, amarrar, vendar os olhos, e até mesmo argolas para amarrar os mamilos, o pênis ou o clitóris e puxar. Essas são algumas das práticas que os casais sadomasoquistas gostam de fazer na cama. Entre os objetos preferidos estão roupas de couro bem coladas, pois definem o corpo, tachas pontiagudas, algemas, bandagens, vela, chinelos, cordas, cadeados, fitas adesivas, chicotes, roupas de couro e de metal. Carla conta que existe até quem é adepto da asfixia sexual, ou seja, quando o parceiro chega ao orgasmo, o outro o sufoca com um saco para sentir prazer com o sofrimento alheio.
Com tanta “violência” na cama, fica difícil acreditar que este casal consiga afastar a agressividade do convívio diário. No entanto, Carla explica que eles só entrarão em conflito quando não há concordância entre as práticas. “Se um dos dois não está gostando muito do que está vivenciando na cama, eles vão acabar brigando em algum momento. Mas se ambos gostam da agressividade, dificilmente ela vai para a vida fora do sexo, pois se é gostoso e bom, está tudo certo”, explica.
A busca de limites também é feita em dupla e, conforme explica Oswaldo, cada casal cria suas próprias regras. O único entrave é quando um não dos dois não é adepto das preferências. “Se uma prática não é a preferida, não será usada no relacionamento, pois seria uma violência contra o outro, e isto está fora das possibilidades eróticas”, pontua.
Quando o sádico encontra o masoquista, as chances de o relacionamento sexual dar certo são grandes. “Se o casal está bem com isso, não existem problemas. Pode parecer estranho para quem está de fora, mas cada um sabe o seu próprio limite. É um relacionamento como qualquer outro, só que não tem nem frutinhas, nem rosinhas, só algemas e chicotes", finaliza a sexóloga.
Usar salto pode ajudá-la a chegar lá - Segundo um estudo da Universidade de Verona, usar salto ajuda a relaxar e a fortalecer os músculos da região pélvica intensificando as contrações durante o orgasmo. Porém, o efeito positivo não aumenta de acordo com o tamanho do salto. Para Maria Cerruto, coordenadora da pesquisa o ideal é um salto que tenha entre 4 e 5 centímetros
Foto: Getty Images
Ele pode aparecer na academia - Segundo uma pesquisa realizada pelo Centro de Saúde Sexual da Universidade de Indiana, nos EUA, 40% das mulheres entrevistadas já tiveram prazer induzido pelo exercício ou orgasmo mais de 11 vezes em suas vidas. Das mulheres que tiveram orgasmos na academia, cerca de 45% disseram que a primeira experiência foi ligada a exercícios abdominais; 19%, ligado à bicicleta e corrida; 9,3%, ligado ao escalar. Já 7% delas relataram uma conexão com o levantamento de peso e outros 7% com a execução; o restante das experiências incluiu vários exercícios, como ioga, natação, aparelhos elípticos e aeróbica. O mais surpreendente é que isso não teve relação com fantasias sexuais ou pensamentos com o sexo oposto
Foto: Getty Images
Mulher realmente demora mais - Para que o homem fique excitado, seu organismo precisa bombear cerca de 10 ml de sangue para seu pênis. Já o órgão sexual feminino, que é mais complexo, precisa de aproximadamente 200 ml. "Isso faz com que a mulher precise de um pouco mais de tempo, porém essa resposta sexual pode ser mais rápida quando ela já começa a pensar em sexo e se preparar para a relação. Porém, o que mais conta aqui são as questões emocionais. Autoestima, autoconfiança, estado emocional, dinâmica do casal e vínculo afetivo podem influenciar no orgasmo feminino", afirma Celso Marzano
Foto: Getty Images
Um terço das mulheres brasileiras nunca atingiu o orgasmo - De acordo com pesquisas realizados pela psiquiatra Carmita Abdo, coordenadora do Projeto Sexualidade do Hospital das Clínicas da USP, cerca de um terço das mulheres brasileiras nunca chegou ao clímax durante a penetração nem durante a masturbação. Em outros países esse índice é ainda mais chocante. Um estudo encomendado por sex shops na Inglaterra detectou que 80% das imulheres não atingem o orgasmo durante as relações. Por isso, se você ainda não chegou lá, fique calma, você não está sozinha. "Sexo é um aprendizado constante. Cada relação é diferente e não é porque você não sentiu determinada até hoje que isso não possa acontecer amanhã. Você tem todas as ferramentas, só é preciso se conhecer para saber como usá-las a seu favor", garante Celso Marzano, urologista, sexólogo e terapeuta sexual
Foto: Getty Images
Existe até plástica para facilitar o orgasmo - Conhecida nos EUA como G-Shot, a técnica promete aumentar o ponto G por meio de injeções intravaginais de colágeno, aumentando o atrito durante a penetração e permitindo assim que a mulher chegue ao orgasmo mais facilmente. O procedimento, que custa em torno de R$ 3,5 mil, é feito com anestesia local e dispensa internação. Porém, a técnica gera polêmica e não é reconhecida pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica
Foto: Getty Images
O recorde mundial de orgasmos é de 222 - O registro foi feito durante o evento Masturbate-a-Thorn, em 2009, na Dinamarca. É claro, que a marca alcançada por Deanna Webb será difícil de bater, mas isso não quer dizer que você não possa tentar. Segundo Celso Marzano, toda mulher tem capacidade física de ter um orgasmo múltiplo. "Isso acontece porque o corpo feminino é capaz de manter a excitação, mesmo após o primeiro orgasmo. Por isso, com estímulo ela é capaz de sentir um novo clímax", explica o médico
Foto: Getty Images
Camisinha não afeta o orgasmo - Não há desculpa para não se proteger. Segundo estudo realizado pela Universidade de Indiana, nos EUA, a qualidade dos orgasmos femininos não tem nenhuma relação com o uso da camisinha. Aliás, a camisinha pode até ajudar já que diminui a preocupação do casal, costuma retardar um pouco a ejaculação masculina, dando mais tempo para a mulher chegar lá, e ainda auxilia na lubrificação
Foto: Getty Images
O orgasmo é mais provável na primeira quinzena do ciclo menstrual - "Durante os primeiros 15 dias do ciclo menstrual os níveis de testosterona estão mais altos, o que garante mais tesão", diz Celso Marzano. Com isso a mulher acaba fazendo mais sexo nesse período e a libido afeta também a probabilidade do orgasmo feminino
Foto: Getty Images
Mulheres têm mais orgasmos com homens ricos - De acordo com estudo britânico, da Universidade de Newcastle, o dinheiro é um fator que pode influenciar o orgasmo. Para os cientistas responsáveis pela pesquisa isso seria resultado de uma adaptação evolucionária. Aparentemente sem preocupações de como vão as contas, as mulheres conseguem se entregar mais à relação sexual. Segundo a sensual coach Fátima Moura, a desconcentração na hora H é uma dos principais fatores que afastam as mulheres do tão desejado orgasmo. "A mulher em geral está com tantas coisas na cabeça, preocupada e encucada com tantas questões, que acaba não conseguindo se entregar e perceber as sensações de seu corpo durante o sexo", justifica
Foto: Getty Images
Preliminares devem durar entre 15 e 20 minutos - É claro que esse tempo pode variar muito de acordo com o momento, mas, segundo Celso Marzano, as mulheres precisam de 15 a 20 minutos de preliminares para estarem lubrificadas e excitadas o suficiente para uma penetração prazerosa. "Cada pessoa tem uma resposta sexual diferente, não existe uma receita. Então, é essencial se tocar e se conhecer para saber quais ingredientes são necessários para você", diz. Para Fátima Moura, o autoconhecimento também é uma palavra chave. "Quando a mulher se experimenta vai descobrindo que tipos de carícia são mais excitantes, de que velocidade, pressão e tipo de movimento dão mais prazer e facilitam seu orgasmo", afirma ela
Foto: Getty Images
A idade influencia - A partir dos 50 anos existem algumas questões físicas que jogam contra o prazer feminino, porém a experiência pode ajudar. "Nessa época as variações hormonais fazem com que a lubrificação geralmente fique mais difícil. O desejo pode diminuir também gerando complicadores emocionais. Se a mulher está com a autoestima abalada isso vai refletir na vida sexual", explica Celso Marzano. Por outro lado, com a idade a mulher tende a conhecer melhor o próprio corpo fazendo o caminho para o orgasmo algo menos tortuoso
Foto: Getty Images
Um orgasmo pode gerar uma descarga elétrica de até 244mV (milivolts) - Durante o orgasmo as paredes da vagina liberam energia e sofrem contrações musculares involuntárias, seguidas de uma sensação de relaxamento. Segundo Jairo Bouer e Marcelo Duarte, autores do Guia dos Curiosos Sexo, a descarga elétrica produzida por cinco mulheres tendo orgasmo seria suficiente para acender uma lâmpada
Foto: Getty Images
Manter pés aquecidos aumenta as chances de orgasmo - Apesar de parecer estranho é exatamente isso que mostra uma pesquisa realizada pela Universidade de Groningen, na Holanda. Segundo os cientistas manter os pés aquecidos por uma meia, por exemplo, aumenta em 30% as chances de você chegar lá. Se você que transar de meia pode cortar seu tesão experimente pedir ao parceiro que faça uma massagem em suas pés com um óleo de massagem que esquenta
Foto: Getty Images
Musculação íntima pode intensificar o orgasmo - O pompoarismo, antiga técnica oriental derivada do tantra, pode facilitar o caminho para o orgasmo. Com esses exercícios íntimos é possível fortalecer a musculatura vaginal e obter mais controle sobre seus movimentos. Segundo a Fátima Moura, ele ajuda a aumentar a libido, melhora a lubrificação e faz com que você atinja o clímax com mais facilidade. Além disso, sabendo controlar melhor sua musculatura vaginal, a tendência é que os orgasmos fiquem ainda mais intensos
Foto: Getty Images
Orgasmo alivia e retarda dores - Durante a relação sexual o corpo libera endorfina, que é responsável pela sensação de prazer e satisfação. Segundo estudos do Projeto Sexualidade do Hospital das Clínicas USP (ProSex), o ápice disso acontece justamente no momento do orgasmo quando acontece um estado de relaxamento físico total. Na mulher também ocorre a liberação do hormônio ocitocina, que promove a contração do útero. Esses fenômenos ajudam a aliviar dores de cabeça, reumáticas, menstruais, melhoram o sono, reduzem o estresse e favorecem o metabolismo. O orgasmo é capaz de deixar até a pele mais viçosa, já que melhora a circulação sanguínea
Foto: Getty Images
A educação pode influenciar no orgasmo - Um estudo realizado na Alemanha sugere que quanto mais educação tiver a mulher menor são as chances de ela chegar ao orgasmo. A pesquisa, realizada com 2 mil mulheres com idades entre 18 e 49 anos, indica que 62% das entrevistadas possuíam ensino superior afirmaram que tinham problemas frequentes para chegar ao orgasmo, enquanto apenas 38% das mulheres com menos educação relataram o mesmo problema. Para os pesquisadores a possível explicação para esse fenômeno é a diferença entre os perfis, pois as mulheres que estudaram mais geralmente possuem mais responsabilidades e consequentemente estresse, o que leva a esse maior bloqueio sexual
Foto: Getty Images
A ejaculação feminina não é lenda - Algumas mulheres, em virtude de um orgasmo vaginal intenso, liberam muito líquido durante o ato sexual e chegam até a achar que urinaram. Segundo Regina Navarro Lins e Flávio Braga, autores de O Livro de Ouro do Sexo, esse fenômeno ocorre por meio das áreas sexuais que circundam a uretra, especialmente o ponto G, normalmente localizado cerca de 2 a 3 cm a partir da entrada da vagina. Cerca de 10% das mulheres apresentam esse tipo de ejaculação