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Novo presidente da África do Sul traz à tona discussão sobre poligamia

6 mai 2009 - 14h35
(atualizado às 16h16)
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Rosana Ferreira

Jacob Zuma, novo presidente da África do Sul, tem cinco mulheres
Jacob Zuma, novo presidente da África do Sul, tem cinco mulheres
Foto: Rajesh Jantilal / AFP

A curiosidade natural em torno da próxima primeira-dama de um país antes das eleições se torna incomum quando o candidato favorito é polígamo - pessoa que tem mais de um cônjuge ao mesmo tempo. É o que está acontecendo com Jacob Zuma, que foi aclamado nesta quarta-feira presidente da África do Sul pelo Congresso Nacional Africano (CNA). A vitória de Zuma coloca, novamente, em pauta a polêmica discussão sobre o assunto.

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Aos 67 anos, Zuma, da etnia zulu, possui três mulheres declaradas: a discreta Sizake Khumalo, idade desconhecida, com quem é casado há 50 anos; a evangélica Nompu Mantuli, 34, a aparente favorita a assumir o posto de primeira-dama; e a mais recente, Thobeka Mabhija, 35. O presidente - que pode ter tido outras duas mulheres, além das três oficiais - não esconde sua gama de relacionamentos. A poligamia é permitida na África do Sul, por uma lei de 1998, apenas para casamentos realizados de acordo com as tradições africanas.

No país existem várias tribos que são polígamas, assim como outras comunidades no mundo, seja por questões religiosas ou culturais.

Segundo o psicólogo Ailton Amélio da Silva, professor do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP) e autor do livro Para Viver um Grande Amor, a poligamia surgiu exatamente nessa região do mundo. "Está nas raízes genéticas do ser humano. Todos nós somos moderadamente polígamos", explica.

De acordo com estudos antropológicos, que analisaram os hábitos de mais de 1000 sociedades no mundo, cerca de 800 grupos sociais têm traços poligâmicos. Mas, não é por isso que todos vão sair por aí casando ou tendo casos com vários parceiros ao mesmo tempo, principalmente porque no Ocidente predomina o relacionamento monogâmico - casamento com uma pessoa.

"Temos mecanismos para ficar com uma pessoa por toda a vida, como o amor e os valores culturais e sociais", diz o especialista. A religião cristã, por exemplo, seria a responsável por barrar a poligamia no Ocidente, já que trata o polígamo como pecador.

Poliginia x poliandria

A poligamia se divide em duas vertentes. A mais comum é a poliginia - casamento de um homem com várias mulheres. Já a poliandria - casamento de uma mulher com vários homens - é mais restrita e menos aceita. "A explicação para essa preferência masculina é porque os homens querem sempre ter a certeza da paternidade", diz a psicoterapeuta e sexóloga Regina Navarro Lins, do Rio de Janeiro, autora do livro A Cama na Varanda.

Para o psicólogo da USP, no entanto, também há razões biológicas para a mulher ser menos voraz na questão do sexo. "Para ela interessa menos a quantidade e mais a qualidade. Isso porque a mulher precisa caprichar na escolha, já que pode engravidar e encarar nove meses de gestação, além de cuidar do filho depois. Para o homem não custa nada fazer descendentes", diz.

Além dos fatores biológicos, a mulher se depara ainda com os mecanismos criados pela sociedade para brecar o seu ímpeto sexual, como os controles religiosos e sociais ditados por cada comunidade. Assim o homem ficaria numa posição confortável para confiar que seus filhos são legítimos.

"Essa diferença na maneira de encarar o sexo para as mulheres está mudando, com um pouco mais de liberdade para elas", afirma o psicólogo. "Acredito que daqui a alguns anos o fato de a mulher ter vários parceiros vai se generalizar", prevê a psicoterapeuta.

Elas e eles

A previsão da sexóloga foi vivenciada por Maria Marlene Silva Sabóia, cearense nascida em Jaguaribe Mirim, que conviveu com três homens (Oscar, Chico e Zé) sob o mesmo teto por anos. Sua história foi retratada no filme Eu, Tu, Eles, do diretor Andrucha Waddington.

Na ficção, o nome da mulher foi mudado para Darlene. Interpretada por Regina Casé, ela se casa com Osías (Lima Duarte), um vizinho bem mais velho, e passa a ter uma vida de camponesa nordestina, submissa ao marido, como se espera numa sociedade patriarcal. Mas Darlene consegue burlar essa regra e convida o primo de Osias, Zezinho (Stênio Garcia), para morar com eles. Depois chama Ciro (Luiz Carlos Vasconcelos), que trabalha com ela nos canaviais, para jantar. Como ele não tem onde dormir vai ficando por lá mesmo. Das relações com os três "maridos" vão nascendo os filhos, sem que se saiba, ao certo, que são os pais legítimos.

Big Love

A poligamia é também o tema central da série americana de TV Big Love (Amor Imenso) apresentada no canal HBO Plus (TV a cabo), que atualmente reapresenta a primeira temporada. Produzida por Tom Hanks, a série mostra a vida de um homem e suas três mulheres em uma casa no subúrbio de Salt Lake City, no Estado de Utah, Estados Unidos.

Na cidade está localizada a sede da Igreja de Jesus Cristo dos Últimos Dias, o que gerou polêmica e críticas por parte da comunidade mórmon. No passado, essa igreja admitia a poligamia - estima-se que seu fundador, Joseph Smith, teria tido de 35 a 48 esposas. Por pressão do governo e perseguição da sociedade, essa prática foi abolida pelos mórmons, mas grupos dissidentes teriam se formado para continuar praticando a poligamia, principalmente na região de Utah.

A clandestinidade é o mote da poligamia em países ocidentais que pregam a monogamia, o que transparece no seriado da TV. A essa condição clandestina soma-se a árdua tarefa do polígamo protagonista de Big Love para lidar e organizar direitos, deveres e mimos entre as três mulheres. Como só uma delas trabalha, o homem da família, geralmente, fica responsável pelas despesas da casa, situação comum nos casamentos polígamos.

Por este motivo, em culturas que praticam a poligamia, somente os homens mais abastados conseguem desfilar com mais de uma mulher, sendo a poligamia tratada como um fator de status social. Na cama, as três mulheres da série americana se revezam, uma por noite, o que logo faz o marido recorrer à pilula azul. No caso de Jacob Zuma, a questão é pública: resta saber quem vai figurar ao lado de Carla Bruni e Michelle Obama quando o presidente estiver em eventos políticos.

Fonte: Especial para Terra
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