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'Morning After': casais fazem books após noite de núpcias

Ensaios de casais após o sexo, recém-nascidos, selfies e bebês se lambuzando com bolos ganham cada vez mais espaço nas redes sociais

17 abr 2014 - 10h06
(atualizado às 11h52)
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<p>Casais apostam em books diferentes para marcar o início da vida de casados</p>
Casais apostam em books diferentes para marcar o início da vida de casados
Foto: Ton Fortes / Divulgação

Você abre o Facebook e em menos de cinco minutos já se atualizou, visualmente, sobre o que os seus amigos – alguns, nem tanto assim – andam fazendo. Álbuns de fim de viagens, recém-nascidos e festas de casamento são alguns dos exemplos que costumam povoar a rede social.

Apesar de o objetivo ser sempre o mesmo, os formatos vêm se renovando e há quem abra mão dos ensaios tradicionais para apostar em fotos mais ousadas. Na “área” dos bebês, há o chamado New Born, com cliques da criança com poucos dias de vida, geralmente dormindo; e o Smash the Cake, que mostra o rebento se lambuzando à vontade diante de um bolo.

Já para os casais, apesar de não ser novidade, a tendência que vem ganhando força e tomando o lugar das fotos mais clássicas é o Morning After. O nome já diz a que veio: o casal é fotografado na manhã seguinte à festa de casamento, nas primeiras horas como oficialmente casados. 

Segundo o fotógrafo Ton Fortes, é bastante comum o desejo de pessoas “comuns”  terem fotos sensuais, dentro de um trabalho mais artístico, que, para ele, é atendido pelo ensaio Morning After.

Ele conta que o trabalho pode custar entre R$ 900 a R$ 1.300, dependendo do pacote contratado. A sessão dura entre uma e duas horas. “Estamos lidando com pessoas comuns e não com modelos que estão acostumados com as lentes. Por isso, é fundamental que exista um grande elo de amizade entre fotógrafo e fotografados”, pontua.

Quantos ‘likes’ esse álbum merece?

Para muitos, os ensaios não passam de uma forma de registrar um momento, que é o objetivo primordial da fotografia. No entanto, ao sair do campo físico para o virtual, ela passa a refletir um novo traço comportamental da sociedade: o desejo de exposição.

Este hábito sempre existiu, mas hoje passa pelo meio virtual. “É um fenômeno mundial”, diz Luiz Moreno, doutorando do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo.

O contrarregra Willian Monana, 32, de São Carlos (SP), buscou o Morning After com sua mulher. Segundo ele, optaram por este tipo de ensaio por ser algo diferente do convencional. “Postamos várias fotos. Recebemos muitas curtidas e comentários positivos. Esse ensaio que acontece na manhã seguinte na intimidade do casal é de muita sensibilidade e beleza”, afirma.

Para Moreno, usamos a Internet para comprovar o efeito que isso pode causar nas pessoas. “Quando tem muitos ‘likes’, elas gostam. Os ‘likes’ viraram uma espécie de moeda virtual, a partir da qual as pessoas comparam umas com as outras”, analisa, completando que muitos acreditam ser necessário se exibir virtualmente para ser desejado.

Willian diz que não se importa muito com os comentários. “Não preciso de curtidas para continuar postando. Geralmente não recebo comentários negativos, mas também tento ser seletivo para postar fotos. Bom senso ajuda para que isso não aconteça”, afirma.

“Hoje o indivíduo se preocupa em ser reconhecido pelos outros, em mostrar que está atualizado, por dentro, que não perde nada. Tem a ver com a sensação de pertencimento, de que ele não está sozinho, não está isolado”, diz Claudio Montonto, psicanalista e professor da PUC.

O vendedor e fotógrafo Alan Monteiro, 36, de São Carlos (SP), foi clicado com sua mulher pelo fotógrafo Ton. “É minha cara fazer fotos mais ousadas”. Ele conta que assim que receber o material, pretende postar todas as fotos no Facebook, e espera uma repercussão positiva. “Tenho rede social exatamente para isso, para compartilhar com as pessoas um pouco da minha vida.”

“O paradoxo é o seguinte: todo ideal de autenticidade conduz a uma imitação. E o que mais se faz nessas redes sociais é se imitar uma outra pessoa pensando que, ao fazer isso, se é autêntico”, diz Moreno.  

O fotógrafo Alan garante que não fica esperando as famosas “curtidas”. “Dificilmente uma foto que eu poste não tem curtida. Mas não sou mimado, o importante é que o trabalho agradou a mim e minha esposa.”

Bebês na rede

Álbuns de bebês no Facebook também têm se tornado algo comum e, assim que deu à luz, Karina Mariano Pavarin, 20, tratou de fazer o seu. Mãe de Agatha, de 2 meses, ela conta que decidiu fazer o “New Born” para guardar como recordação. “Postei 14 fotos no Facebook. Teve muitos comentários porque ficou muito lindo o ensaio fotográfico”, observa.

Para ela, o lado negativo da exposição da rede “são as pessoas maldosas que se aproveitam e pegam as fotos pra fazer perfis falsos”. No entanto, gosta de postar sem se preocupar com a repercussão.  “Coloco as fotos porque eu gosto, não fico esperando que outras pessoas curtam não.”

Já a jornalista Jaqueline Mendes Cilo, 32, mãe de Henrique, de um mês e meio, diz que se sente “arredia” em postar fotos e que sempre ficava “em cima do muro” na hora de expor momentos particulares. “Não sou muito adepta desse tipo de exposição, mas penso ser positivo até certo ponto. Temos muitos amigos e familiares, muitos deles em outros estados e países. Postar nossas fotos é uma maneira de compartilhar com essas pessoas as mudanças que estão acontecendo”, conta.  

Ela postou dez fotos no Facebook. “Foram cerca de 160 curtidas e 60 comentários”, lembra. “É claro que esperamos a reação das pessoas após um post. Ver muitas curtidas e comentários legais é muito bom mesmo. Mas não me prendo a isso.”

Jaqueline afirma que a página é aberta apenas para amigos. “Não tenho o hábito de postar coisas, pensamentos ou opiniões. Cheguei a ficar meses sem acessar. Por isso, não imaginava que teria tantas curtidas e comentários.”

Apesar da surpresa positiva, ela é contra os excessos. “Embora seja um bebê, ele merece tanto respeito quanto qualquer adulto. Eu postei as fotos de um ensaio profissional de meu filho e não coloquei nenhuma outra mais íntima, como na maternidade ou em um banho em casa, por exemplo.”

Do ‘Selfie’ ao ‘After sex’

Casar ou fazer filhos não é a única forma que algumas pessoas encontram para dividir um pouco da sua intimidade na web. Os ‘selfies’, fotos de rosto tiradas pela própria pessoa, bem como os ‘looks do dia’, tirados em frente ao espelho para mostrar as roupas e acessórios escolhidos, seguem em destaque.

Uma nova moda entre os casais tem chamado atenção, o After Sex, que nada mais é do que uma foto dos pombinhos no pós-coito,  acompanhadas pela hashtag #aftersex.

Para Montonto, a única explicação para fotos no estilo selfie é a autoafirmação. “É dizer ‘eu existo, eu estou aqui’. Antigamente, para a pessoa se destacar tinha que escrever um bom artigo, tocar um instrumento, ser um grande artista. Hoje basta aparecer”, analisa.

Moreno acredita que este tipo de comportamento tende a diminuir. “Desconfio que as selfies logo vão entrar em queda, ou vão ganhar um novo formato. Isso porque elas têm se tornado ridículas, no sentido rigoroso do termo. Isto é, ficaram evidentes os mecanismos psíquicos que levaram as pessoas a tirarem e postarem esse tipo de foto.”

Redes sociais no consultório

Montonto reforça que, em excesso, o exibicionismo pode corresponder a “uma vida completamente oca”. Segundo ele, em termos psicanalíticos, a pessoa acaba perdendo tempo de vida ao não refletir antes de se expor aos demais. “É o enriquecimento material que acompanha a pobreza emocional, a incapacidade de refletir”, afirma. “Estamos imitando o modelo americano, a pior escolha”, completa.

O especialista nota também um crescente número de pacientes relatando o que acontece nas redes sociais no consultório, como se tais situações representassem o mundo real. Segundo ele, os assuntos transitam entre o número de curtidas, possíveis exclusões ou mensagens não respondidas. “Estão fazendo nas redes o que deveriam fazer na vida real, que é lidar com os problemas”, finaliza. 

Fonte: Terra
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